Realces
fearless.etc - quarta edição
LINN DA
QUEBRADA
Vinda de uma infância religiosa, como Testemunha de Jeová, Linn da Quebrada, ou Lina X (como foi chamada em uma canção feita pela cantora e compositora, Liniker) é hoje expoente da música brasileira. Embaralhando ritmos como gueto club, vogue, funk, Música Popular Brasileira e Música Popular Translesbixa, seu álbum de estreia, Pajubá (2017), é considerado por ela um vômito narrativo.
“Eu nunca tinha feito música antes e passo a entender música enquanto a estou fazendo. Assim, passo a entender as múltiplas possibilidades que a música traz. Em Pajubá, gosto dessa experimentação toda que veio dessa minha primeira experiência musical e nisso descobrir quais caminhos eu consigo construir com as ferramentas que eu tenho. Gosto da sonoridade, mas gosto também da sua composição e decomposição. É um disco verborrágico, com tudo que tava entalado em mim, já veio quase pronto”, diz Linn.
Se denomina cantante, pois é uma pessoa que canta e encanta. A música tem papel fundamental em sua vida e ela continuará cantando enquanto esses encantos fizerem efeito sobre ela, seu corpo, seus afetos, suas redes de apoio. Em seu novo projeto “Trava Línguas”, junto com a produtora musical, BadSista, a “terrorista de gênero” busca ser mais sintética e busca diferença nas repetições. Cada performance acaba sendo diferente da anterior.
Saiu em turnê para diversos lugares do Brasil e também para cidades internacionais, como Berlim, Amsterdam, Paris, Lisboa e Madri. Para ela, os contextos de performar em países outros que o Brasil são diferentes, ao mesmo tempo que existe uma repetição. É como se o mundo fosse um grande shopping center, onde ela compra, vende e é vendida. Diz que seu corpo e o corpo de outras muitas é político em qualquer lugar, e que é muito contraditório e dialético perceber como consegue circular em tantos lugares, e ainda ser atravessada por diferentes situações e também pontos em comum.
A canceriana, hoje com 28 anos de idade, acredita que o amor como conhecemos é uma instituição falida, que deve ser destruído, para que outras condições de amar sejam construídas, ou senão não serão todas as pessoas que terão acesso.
“Fomos expulsas desse éden do amor e agora tenho entendido que podemos hackear e construir vias clandestinas de amar. Estou no vórtice de um furacão onde venho tentado entender como as teorias se dão na prática. Tenho percebido que, muitas vezes, nossas teorias são falhas. Funcionam muito bem nas ideias, mas é preciso incorporá-las em nossas vivências, nossos corpos, nossos ossos e nossa cor. É necessário entender o que podemos construir com este amor, em nós e agora”, ressalta ela.
Além de ser inspiração para ela mesma, ela diz que: “Linn e Lina também possuem referências variadas. Dzi Croquettes, Claudia Wonder, Jorge Lafond, Lacraia etc. Também tenho referências fora do universo LGBT+. Eu extraio diversas referências de pessoas que acho interessantes dentro de todo esse leque de apreciações que tenho. Se a gente voltar três anos atrás, nossas referências eram limitadas. Isso de 'diva' e 'holofotes' não é interessante para nenhuma das partes envolvidas. Precisamos destruir essa inacessibilidade sobre referências e ídolos. Precisamos gerar entrosamento, participação social e política entre nós. Um movimento é um monstro construído coletivamente”.
Suas músicas não são ouvidas apenas pela comunidade LGBT+. Ela cita que não existe música cis e heterossexual e que colocar a música dela como LGBT+ é excludente, já que diz respeito a corpo, experiências e vivências.
"Eu percebo,
me pergunto
e afirmo:
que nem tudo
que vende,
vem de mim
ou vem
de nós"
“Não são músicas de doutrinação, minha música fala a partir da minha história. É ‘a partir de’ e não ‘ponto final’. Pessoas com experiências diferentes também conseguem absorver isso de alguma forma. É justamente sobre isso: faço música para aproximar, e não segregar. Para que a partir das nossas diferenças, possamos nos unir e nos munir”, afirma Linn.
Em pleno 2019, é eleito no Brasil um presidente extremista e que já deu diversas declarações destilando diversos tipos de preconceito. Enquanto o Brasil é o país já é o país que mais mata LGBT+’s no mundo e ainda possui uma ferida recente ainda não cicatrizada, que é a ditadura militar (1964-1985), esse presidente, que incitou o ódio de seus eleitores e celebra até hoje ditadores e torturadores, decide facilitar o porte de armas à população.
“Essas coisas me parecem cíclicas dentro da história. Essas pessoas no poder revidam com violência, que operam com base no medo. É um sistema tão previsível, eles são burros, repetem as mesmas técnicas de imposição de medo, querendo nos fazer esquecer nossa história e nossa força coletiva. Nos fragmenta e nos coloca umas contra as outras, mas precisamos perceber nossas diferenças e nossos pontos em comum contra isso”, diz Lina.
A mesma resistência que é mostrada pela Linn, e por muitas outras pessoas desses grupos sociais que foram marginalizados, também foi vista durante a ditadura brasileira. Um exemplo é o grupo brasileiro Dzi Croquettes. Criado em 1972, pelo americano de origem italiana, Lennie Dale, a trupe de teatro e dança era composta por “homens que podem ser mulheres, que podem ser homens”. A androginia dos integrantes foi vista como afronte pelos militares e o espetáculo foi censurado e o grupo dissolvido em 1976.
O que a Linn faz com sua música é a construção do pensamento coletivo, a criação de um novo imaginário social, ou como ela chama: o fim dos tempos. Ele diz que esse fim dos tempos é temido por eles (sistema, governo), porque quando tudo isso acabar, novas possibilidades de pensamentos surgirão.
Ginger
Moon
DANNA LISBOA
DUDX
don valentim
JUP
BAIRRO
DO
SLIM
SOLEDAD
making of
créditos
direção criativa
LUCA WEINGÄRTNER & GUILHERME LOURENÇO
fotografia
OTÁVIO GUARINO
edição e finalização
LUCA WEINGÄRTNER
produção
LUCA WEINGÄRTNER
GUILHERME LOURENÇO
DAN LOURENÇO
ass. de fotografia
MAÍSA MENDES
moda
JEFF PACHECO
VICTOR LOUREIRO
MATHEUS CAPANEMA
GUILHERME LOURENÇO
LUCAS CANCIAN
CAIQUE TAVARES
MATHEUS OLIVEIRA
beleza
MONIQUE LEMOS
EMERSON DOUGLAS
AMANDA THOME
JULIA LEONE
ENZO DE MARCHI
DUDX
GINGER MOON
DOM VALENTIM
DIEGO VALE
making of (foto)
VICTOR REIS
making of (vídeo)
GABRIEL AUGUSTO
elenco
LINN DA QUEBRADA
JUP DO BAIRRO
SLIM SOLEDAD
GINGER MOON
DOM VALENTIM
MAVI VELOSO
DANNA LISBOA
DUDX
agradecimentos
TEATRO CENTRO DA TERRA
IZABELA COSTA