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Caio Coletti

10 jogos para entender a história LGBTIA+ dos videogames

Entre as formas de arte mais populares da atualidade, os videogames são os que mais se agarram, ainda, na noção de heteronormatividade dentro da comunidade. É uma visão, no entanto, que contradiz a própria história do formato, permeada de criadores e apreciadores LGBTIA+ - conheça um pouco dessa história abaixo.


10.Caper in the Castro


Lançado em 1989, quando videogames ainda eram distribuídos em disquetes para Mac OS, “Caper in the Castro” colocava os jogadores no papel de uma detetive lésbica que investiga o desaparecimento de sua amiga drag queen, examinando vários locais do distrito do Castro, em San Francisco (um histórico antro da comunidade LGBTIA+), para encontrar pistas. A desenvolvedora, C.M. Ralph, nunca cobrou pelo jogo, ao invés disso pedindo que os compradores doassem dinheiro para alguma caridade que estava envolvida na luta contra o HIV/AIDS. Hoje, “Capter in the Castro” pode ser jogado on-line.


09.GayBlade


Três anos depois, em 1992, Ryan Best desenvolveu e lançou “GayBlade”, um game de ação que colocava o jogador no lugar de um homem gay, andando por vários cenários e enfrentando inimigos como skinheads e caipiras homofóbicos -- até chegar ao “chefão” do final, o pastor e político conservador Pat Buchanan, um dos maiores opositores dos direitos LGBTIA+ nos EUA na época. Derrotar a homofobia, mesmo que seja só na tela, tem um efeito tão catártico hoje quanto tinha na época - tente você mesmo aqui!


08.Fallout 2


O mundo dos RPGs é todo predicado na liberdade de escolha e customização dos jogadores: eles podem ser quem quiserem, terem o visual que quiserem… e, presumivelmente, se relacionarem com quem quiserem? Isso não era exatamente verdade antes de “Fallout 2”, de 1998, que escancarou as possibilidades e até ficou marcado como o primeiro game a permitir um casamento entre pessoas do mesmo sexo -- no caso, se a personagem do jogador fosse mulher, ela podia se casar com Miria, outra personagem feminina. Tudo isso quase 20 anos antes da legalização do casamento homoafetivo nos EUA.


07.The Sims


Digo com tranquilidade que viver vidas alternativas no “The Sims” (lançado em 2000) é uma das experiências comuns formativas da minha geração. E o apoio incondicional do game à possibilidade de relacionamentos homoafetivos se integrou a isso perfeitamente -- quando o jogador direcionava o seu Sim a flertar com outro do mesmo sexo, o jogo não fazia nada diferente do que faria se o Sim fosse do sexo oposto. Nas vidas caóticas (mesmo se você tivesse alguns códigos para trapacear) dos personagens do game, toda uma geração “aprendeu”, para o bem ou para o mal, como ser adulto… e fazer isso em um ambiente inclusivo e permissivo fez toda a diferença.


06.The Temple of Elemental Evil


Depois de tudo isso, gamers com certeza já estariam acostumados à diversidade sexual em seus jogos, correto? Não exatamente, como “The Temple of Elemental Evil” demonstraria em 2003. Em uma prévia do movimento GamerGate, que viria a expor as crenças e práticas tóxicas de uma parte dos gamers cis-heterossexuais brancos, o jogo desenvolvido pela Atari, parte da megafranquia “Dungeons & Dragons”, foi rejeitado nas lojas e sujeito a intermináveis reclamações em uma ainda pubescente internet -- tudo por apresentar ao personagem jogador (um homem) a possibilidade de aceitar o pedido de casamento de um pirata bêbado (também homem).


05.The Last of Us: Left Behind


Esqueça essa história do personagem ser LGBTQ+ dependendo da escolha do jogador: na franquia “The Last of Us”, uma das maiores da atualidade nos videogames, a protagonista Ellie é lésbica -- e o jogador não pode dizer o contrário. Foi na extensão do primeiro jogo, “Left Behind”, lançada em 2014, que a sexualidade da personagem ficou clara, quando a história explorou sua relação com a melhor amiga Riley e presenteou os fãs com uma cena de beijo comemorada pela comunidade gamer LGBTIA+ ao redor do mundo. A alegria de ter representatividade irrevogável, inapagável, em um dos maiores blockbusters da indústria dos games, abriu uma comporta que seria impossível de fechar.


04.Final Fantasy XIV


Quando o assunto é videogame, é impossível ser maior que “Final Fantasy”. A franquia mais emblemática dessa forma de arte sempre brincou com apresentações de gênero e sexualidade (a missão de “Final Fantasy VII” em que o protagonista Cloud precisa se vestir de mulher é antológica), mas foi só em 2014 - não por acaso, alguns meses depois do lançamento de “The Last of Us: Left Behind” - que o universo do jogo passou a permitir que o jogador entrasse em relacionamentos com personagens do mesmo sexo. Mesmo assim, foi só em um “patch”, uma espécie de “conserto” que os desenvolvedores lançam para arrumar problemas ou expandir possibilidades dos jogos - e só depois de muita reclamação dos fãs.


03.Life is Strange

A ascensão dos games tipo “visual novel”, que deixam os jogadores experimentar uma história única no lugar dos personagens, com algumas escolhas determinantes para os rumos dessa trama, levou a uma fonte rica de exploração de identidades LGBTQ+. Em “Life is Strange”, essencialmente um drama adolescente com toques de fantasia, o jogador vive a história da protagonista Max a partir da axis na qual ela foi construída: o relacionamento com Chloe, sua melhor amiga e, com a progressão da história, interesse amoroso. Assim como “The Last of Us”, não é uma opção negar a atração de Max por Chloe - mas “Life is Strange” é muito mais focada na identidade da personagem e o que isso significa para a sua história.


02.Baldur’s Gate: Siege of Dragonspear


Nos mais de 30 anos de história que cobrimos até aqui, uma omissão é óbvia: representatividade transgênero nos videogames. “Baldur’s Gate: Siege of Dragonspear” pode não ser o primeiro jogo a ter um personagem trans, mas, lançado em 2016, sem dúvida foi o jogo que elevou o atual discurso sobre inclusão trans nesta mídia. A personagem em questão, Mizhena, aparecia pouco e só mencionava ser uma personagem transgênero uma vez, mas foi o bastante para os capangas do GamerGate (aqui já em plena atividade) bombardearem o jogo com reviews negativos e assediarem a roteirista Amber Scott nas redes sociais. A ironia: nem a comunidade trans estava inteiramente feliz com a inclusividade passageira e estereotipada do jogo - mas era, mesmo assim, o início de um debate.


01.Tell Me Why


Quatro anos depois de “Baldur’s Gate”, um dos maiores jogos de 2020 trouxe um homem transgênero como protagonista - melhor ainda, um protagonista bem desenvolvido, complexo, cheio de sonhos, traumas e desejos. “Tell Me Why” é, assim como “Life is Strange” (da mesma desenvolvedora, a Dontnod Entertainment), uma “visual novel” em que a identidade do protagonista Tyler é parte integral da narrativa, mas não o seu único tema central. O jogo confronta a transfobia, sim, mas também aproveita para explorar ideias de pertencimento familiar, saúde mental, responsabilidade parental, e a importância de uma comunidade forte construída em uma base de solidariedade.


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