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Caio Coletti

Nós construímos Hollywood: 10 ícones LGBTIA+ da era de ouro do cinema

O cinemão norte-americano sempre foi coisa de LGBTIA+. Como em todas as áreas do entretenimento, aliás, nós fomos pedras fundamentais para construir a indústria de Hollywood. Claro que nenhum dos ícones que reunimos na lista abaixo, infelizmente, teve a oportunidade de se assumir durante o auge de sua carreira -- mas, quando você vê um Neil Patrick Harris ou um Elliot Page triunfando nas telas, pode agradecê-los.


1.Cary Grant


Ele foi um dos maiores galãs da história da Hollywood, estrelando clássicos como “Ladrão de Casaca” (1955) e “Intriga Internacional” (1959) -- e foi também um homem bissexual. Nascido no Reino Unido, mas eternizado como um dos maiores ícones norte-americanos do cinema, Grant foi casado com mulheres cinco vezes, incluindo com a atriz Dyan Cannon entre 1965 e 1968, mas um de seus relacionamentos mais duradouros foi com um homem.


O ator conheceu Randolph Scott em 1932, quando os dois filmavam longas paralelos no mesmo estúdio, no lote da Paramount em Hollywood. Os dois engataram o que muitos biógrafos acreditam ser um namoro, e foram morar juntos dois anos depois -- arranjo que permaneceria por nada menos do que 12 anos, mais do que quatro dos cinco casamentos “oficiais” de Grant.


2.Dorothy Arzner


Se Hollywood ainda luta para reconhecer e dar espaço para diretoras do sexo feminino, imagina nos anos 20, 30 ou 40! Dorothy Arzner era a exceção à regra, estabelecendo uma carreira bem-sucedida na direção após começar na indústria como secretária e datilógrafa de roteiros -- ela comandou estrelas como Katherine Hepburn (em “Assim Amam as Mulheres”, de 1933) e Lucille Ball (em “A Vida é uma Dança”, de 1940), e até descolou uma indicação ao Oscar para Ruth Chatterton por “A Volta dos Deserdados” (1933).


Arzner também era uma mulher lésbica que não escondia sua preferência por mulheres em uma época em que isso era muito mais perigoso. Rumores da época apontavam affairs da diretora com atrizes como Hepburn, Joan Crawford e Billie Burke, mas na verdade ela viveu um relacionamento de mais de 40 anos com a dançarina e coreógrafa Marion Morgan.


3.George Cukor


Nenhum diretor encarnava o luxo da Hollywood da era de ouro como George Cukor. Suas direções icônicas incluem “As Mulheres” (1939), “Núpcias de Escândalo” (1940), “Nasce Uma Estrela” (1954) e “Minha Bela Dama” (1964, pelo qual finalmente venceu seu Oscar). Longe dos sets de filmagem, no entanto, ele era conhecido simplesmente como o padrinho da subcultura gay de Hollywood.


As festas na mansão de Cukor em Los Angeles (EUA) se tornaram lendários pontos de encontro para atores, diretores, roteiristas e outros trabalhadores da indústria que não podiam se assumir oficialmente. O próprio Cukor, cujos amigos poderosos incluíam nomes como Katherine Hepburn, Humphrey Bogart e Laurence Olivier, nunca fez segredo sobre sua orientação sexual, embora não se falasse disso na imprensa, e teve vários amantes durante a vida.


4.Greta Garbo


O rosto de Greta Garbo é quase sinônimo da era de ouro de Hollywood. Os traços finos da atriz sueca, assim como sua persona frequentemente melancólica em tela, a tornaram ícone de uma época, com a ajuda de filmes como “Rainha Christina” (1930), “Mata Hari” (1931) e “Ninotchka” (1939). Sua saída de cena, em 1940, aos 35 anos, para nunca mais voltar aos holofotes, a transformou em uma figura ainda mais mística, cuja vida pessoal até hoje é envolvida em mistério.


A verdade é que Garbo, que nunca se casou nem teve filhos, era bissexual. Seus relacionamentos com o ator John Gilbert e o maestro Leopold Stokowski foram combustível para os tabloides enquanto ela era uma estrela de Hollywood -- mas, em seus anos de anonimado, Garbo também viveu um épico romance com a escritora Mercedes de Acosta, e nutriu uma paixão nunca correspondida pela amiga Mimi Pollak. Tudo confirmado por cartas que a atriz trocou com essas e outras namoradas, publicadas após sua morte, em 1990.


5.James Whale


Quando representações honestas de indivíduos LGBTQIA+ não eram permitidas em tela, os filmes de terror eram campos férteis para abordagens metafóricas e “disfarçadas” da experiência queer. O inglês James Whale era o mestre desse jogo, construindo quase sozinho a celebrada franquia de “filmes de monstro” clássicos da Universal ao assinar “Frankenstein” (1931), “O Homem Invisível” (1933) e “A Noiva de Frankenstein” (1935) -- todos recheados de subtexto LGBTQIA+.


Whale, que lutou na 1ª Guerra Mundial e foi prisioneiro de guerra dos alemães, foi um rebelde toda a sua vida, e um homem assumidamente gay em um ambiente hostil. Entre 1930 e 1952, ele viveu um romance com o produtor David Lewis. Na década de 40, no entanto, acabou sendo ostracizado por uma Hollywood que ainda não via com bons olhos os filmes anti-nazistas que Whale estava tentando fazer. Sua história é contada no filme “Deuses e Monstros” (1998), com Ian McKellen.


6.Joan Crawford


A encarnação do luxo hollywoodiano durante boa parte de sua carreira na frente das câmeras, Joan Crawford fez de tudo: venceu um Oscar por “Alma em Suplício” (1945); atuou em um clássico camp amado pelo público LGBTQIA+, “O Que Terá Acontecido com Baby Jane?” (1964); e até encarnou um ícone lésbico (ou, ao menos, codificado como tal) na figura da dona de saloon Vienna no faroeste “Johnny Guitar” (1954).


Joan não era queer só diante das câmeras, no entanto -- na vida particular, ela também se envolveu com homens e mulheres. Isso de acordo com a filha da atriz, Christina Crawford, que testemunhou em entrevista de 2010 que a mãe teve vários affairs femininos e disse que, se estivesse viva, ela provavelmente se identificaria como bissexual. Os rumores são, inclusive, que esses tais affairs incluíram nomes de peso de Hollywood, como Barbara Stanwyck e Greta Garbo.


7.Marlene Dietrich


O rosto idolatrado e eternizado pelo mestre alemão Josef Von Sternberg em “O Anjo Azul” (1930), um filme germânico que se tornou sensação mundial muito antes da era da globalização, Marlene se transformou na mais misteriosa e sedutora das estrelas da Hollywood clássica -- inclusive, dando um beijão em outra mulher em cena antológica de “Marrocos” (1930).


Ela foi casada com o diretor-assistente Rudolf Siber por mais de 50 anos, entre 1923 e 1976 (ano da morte dele), mas tratava-se de um casamento aberto, em que ambos tinham affairs e compartilhavam as histórias de suas conquistas entre si. A lista de Marlene era extensa, incluindo nomes como James Stewart, Frank Sinatra e Errol Flynn no lado masculino; e a dançarina de cabaré Frede, a escritora Mercedes de Acosta (sim, a mesma da Greta Garbo) e até, supostamente, a cantora Edith Piaf.


8.Montgomery Clift


O astro de “Um Lugar ao Sol” (1951) e “A Um Passo da Eternidade” (1953) viveu uma vida trágica, com o vício em álcool e remédios se agravando após um acidente de carro gravíssimo em 1956, que ainda desfigurou o seu rosto de uma forma que a cirurgia plástica da época não conseguiu reverter completamente. O “suicídio mais lento da história do Hollywood”, como definiu o professor de atuação Robert Lewis, culminou na morte de Clift, aos 46 anos, por um ataque cardíaco causado pelo consumo excessivo de drogas.


Foi só em 2000, quando sua grande amiga Elizabeth Taylor recebeu um prêmio honorário da organização GLAAD, que premia entretenimento LGBTQIA+, que detalhes da vida pessoas do ator foram revelados: ela se referiu a Clift como gay, e disse que ele foi uma das pessoas mais importantes de sua vida. A jornalista Patricia Bosworth, por sua vez, outra amiga próxima da família, disse que o ator se afastou do sexo após o acidente, mas que antes “havia vivido casos de amor incontáveis com homens e mulheres”.


9.Rock Hudson


Indicado ao Oscar por “Assim Caminha a Humanidade” (1956) e o maior astro de comédias românticas de sua época -- “Confidências à Meia-Noite” (1959), um de seus muitos filmes com Doris Day, é o clássico da filmografia --, Rock Hudson foi também o “homem que deu uma face à AIDS” nos EUA, como disse a atriz Morgan Fairchild.


Hudson, que sempre escondeu sua homossexualidade (apesar de casos com o ator Lee Garlington e o escritor Armistead Maupin), foi diagnosticado com HIV em junho de 1984, durante a primeira fase da epidemia. Após mais de um ano de deterioração física e constantes viagens à Europa para buscar tratamentos alternativos, ele revelou sua doença ao público em julho de 1985 -- três meses antes de morrer, aos 59 anos --, gerando ampla cobertura jornalística e promovendo, mesmo que inadvertidamente, a conscientização sobre a epidemia.


10.Vincent Price


Talvez o maior dos ícones do cinema de terror, Price aterrorizou o público em filmes como “Museu de Cera” (1953, que em 2006 seria refeito como “A Casa de Cera”), “A Mosca da Cabeça Branca” (1958, base para o “A Mosca” de 1986), “O Poço e o Pêndulo” (1961) e “O Abominável Dr. Phibes” (1971). Também é dele a voz que faz o monólogo arrepiante de “Thriller”, de Michael Jackson; e é ele quem interpreta o pai de “Edward Mãos-de-Tesoura” (1991), em sua última aparição nos cinemas.


O histórico entre Price, que foi casado três vezes (com mulheres), e a causa LGBTQIA+ começou com sua filha, Victoria Price, que se assumiu lésbica para a família nos anos 1980. Vincent não só a apoiou, como entrou para a PFLAG (associação de pais e amigos de lésbicas e gays, na sigla em inglês) e foi uma das primeiras celebridades a aparecer em comerciais discutindo os perigos da AIDS.


Em 2015, no entanto, quando lançou uma autobiografia, Victoria surpreendeu o mundo ao dizer: “Eu posso dizer com muita certeza que meu pai também teve relacionamentos amorosos com homens durante sua vida. [...] Todo mundo me pergunta se ele era bissexual, e a verdade é que esse tipo de terminologia não existia na época”.


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