A música pop sempre foi o domínio do público LGBTIA+ - mas, até recentemente, isso raramente se refletia em artistas abertamente queer no palco, especialmente se eles estivessem falando de sua sexualidade nas músicas. O pessoal dessa lista está mostrando que essa barreira pode (e deve) ser quebrada.
10. Aíla
Uma das muitas artistas paraenses que vêm mudando o paradigma do pop brasileiro, Aíla estreou com o romântico e regional “Trelelê”, em 2012, abraçando o ativismo em sua segunda obra. “Cada Verso um Contra-Ataque”, de 2016, foi inspirado por sua experiência com movimentos sociais após se mudar para São Paulo.
“Essa onda de não falar sobre as coisas, não dizer que é lésbica, é uma furada grande”, refletiu ela, que é casada com a artista plástica Roberta Carvalho, em entrevista ao site Lado Bi. “Acho que é muito importante assumir meu cabelo crespo, me assumir lésbica, assumir a periferia de onde eu vim”.
09. FLETCHER
Fletcher é parte de uma nova geração de popstar’s que não só se declarou abertamente LGBTIA+ desde o início da carreira, como encontrou força nessa identificação e conquistou uma grande base de fãs na comunidade. A norte-americana, dona de canções intensas, dançantes e emocionais, com refrões deliciosamente grudentos, inclusive fez de seus relacionamentos uma crúcis do seu trabalho.
Vide o último EP de Fletcher, intitulado “The S(ex) Tapes”, escrito, gravado e produzido após o fim do namoro com a Youtuber Shannon Beveridge. As duas, que seguiram amigas após o término, colaboraram na produção e nos clipes das canções, permitindo uma proximidade com os fãs que nem todo artista pop costuma cultivar.
08. Hayley Kiyoko
Em 2015, quando Hayley Kiyoko lançou “Girls Like Girls”, pouco do que o restante dos artistas dessa lista fez de abertamente LGBTIA+ tinha alcançado o mainstream. Não à toa, a ex-”Lemonade Mouth” (só crianças que cresceram com o Disney Channel vão entender) foi saudada como “Jesus lésbica” no começo da carreira musical solo.
Daí adiante, o sucesso foi exponencial, com o lançamento do álbum “Expectations”, em 2018, saudado como um marco na abertura da música pop americana para temas explicitamente LGBTIA+. A cantora retornou aos holofotes com o EP “I’m Too Sensitive for This Shit” em 2020.
07. Isaac Dunbar
É impossível não fazer a comparação entre Isaac Dunbar e Billie Eilish: ambos são artistas norte-americanos adolescentes (Isaac está com 17, e é um ano mais jovem que Billie) que transitam em um território confortável entre o alternativo e o pop, cujo sucesso assinala toda uma nova geração de fãs de música e um novo mercado para ser mirado pelo mainstream.
Mas, embora representem o mesmo fenômeno, culturalmente falando, eles também são artistas únicos em si mesmos: o fato de Isaac ser assumidamente gay informa suas composições, sua sensibilidade para desmontar o sonho americano em uma visão emocional e genuinamente contemporânea. Ele ainda não é tão grande quanto Billie, mas prestem atenção, porque tudo indica que será.
6. Jaloo
Outro artista surgido da vibrante cena paraense que conquistou público ao redor do Brasil, Jaloo faz misturas únicas de pop, eletrônica, brega e outros ritmos regionais. Suas canções são unidas por uma sensibilidade melodiosa e um olhar cuidadoso sobre temas de afeição, sensualidade e insatisfação social.
Se o seu primeiro álbum, “#1”, apresentou o estilo ao público com hits como “Insight” e “Ah! Dor!”, o trabalho seguinte, “ft. (part. 1)” escancarou a expressão de um artista único, extraordinariamente aberto a colaborações e adições sonoras, que demonstra um orgulho imenso de suas origens. Sua arte é o tipo de arte que perdura - Jaloo não vai embora tão cedo.
5. Troye Sivan
Cria da geração YouTube, Troye Sivan foi notado primeiramente por vlogs na plataforma antes de alcançar qualquer significativo sucesso internacional na música ou na atuação. O frisson em torno do seu álbum de estreia, “Blue Neighbourhood” (2015), se deveu em grande parte a essa base de seguidores que acumulou no YouTube, onde se assumiu gay dois anos antes, permitindo que ele explorasse questões de sexualidade desde o início da carreira.
E se o primeiro disco já falava de romance LGBTIA+, especialmente nos clipes, o segundo (“Bloom”, de 2018) foi um passo além ao criar uma obra gloriosamente, alegremente, provocativamente queer -- desde a faixa título, uma alusão óbvia à perda de virgindade do homem LGBTIA+ passivo. O EP “In a Dream”, lançado este ano, continua no mesmo caminho, como indica a insinuante “Stud”.
4. Shura
Essa britânica de 29 anos desbravou o cenário do synthpop, dominado por figuras etéreas e frequentemente elusivas em suas vidas pessoais, para artistas abertamente LGBTIA+. O sucesso do disco “Nothing’s Real”, e especialmente do romântico single “What’s It Gonna Be?”, que incluiu duas storylines LGBTIA+ paralelas em seu divertido clipe, abriu espaço para mais ousadia no segundo álbum, “Forevher”.
Lançado em 2019, o registro de estúdio apresentou letras com conteúdo abertamente queer, e gerou o deliciosamente subversivo single “Religion (U Can Lay Your Hands on Me)”, cujo clipe mostrava Shura desbravando os segredos lésbicos de uma irmandade de freiras em um convento.
03. Olly Alexander (Years and Years)
A música desavergonhadamente sensual e explosivamente queer do Years & Years, de algumas formas, deu o pontapé inicial à recente explosão de atos pop LGBTIA+ no mainstream, aparecendo no mesmo ano (2015) que o single “Girls Like Girls”, de Hayley Kiyoko, com o fabulosamente bem sucedido álbum de estreia “Communion”.
A banda britânica é liderada pelo vocalista e compositor Olly Alexander, que ganhou mais destaque por seu ativismo fora dos palcos do que qualquer outro artista nesta lista. No Reino Unido, ele participou de campanhas promovendo ações anti-bullying, sexo seguro e prevenção da HIV/AIDS, e apresentou documentários investigando a ligação entre problemas de sáude mental e a comunidade LGBTIA+.
02. Tove Lo
Um dos maiores fenômenos do pop atual também traz rara representação bissexual na cultura pop - ou pelo menos representação de um indivíduo abertamente, não-ambiguamente bissexual. A sueca Tove Lo, que virou superestrela depois do sucesso de “Habits (Stay High)”, em 2013, fala de sua sexualidade em letras e entrevistas desde que surgiu no cenário pop, e especialmente conforme a sua música foi se tornando mais e mais pessoal.
Por exemplo: em “Sunshine Kitty” (2019), seu disco mais recente, ela canta com a artista lésbica ALMA no single “Bad as the Boys”, um hino bissexual do coração quebrado. “Eu a conheci no verão/ Pensando que a vida seria melhor/ Mas ela se foi agora/ Pegou meu coração a afundou com ele/ Ela foi tão cruel quanto os meninos”, canta Tove no refrão. Gente como a gente, né?
01. Linn da Quebrada
Na contramão dos outros dois artistas brasileiros da lista, Linna representa a periferia de São Paulo e os desafios particulares e universais que nasceram de sua vivência como travesti neste ambiente. O estilo desafiador de sua persona, com falas sempre elaboradas e mordazes, medidas para contestar o status quo, se traduz na música, que tira influências do pop alternativo, do hip hop e do funk para criar uma expressão inédita.
Notada em 2016, pelo YouTube, a partir do sucesso da música “Enviadescer”, Linn se mostrou uma força cultural imparável nos últimos anos do cenário brasileiro. O disco “Pajubá” se consolidou, nos três anos desde seu lançamento, como um marco da representação LGBTIA+ nacional, e a expressão artística de Linn, a tradução de suas ideias para o meio musical, só fez se aperfeiçoar desde então.
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