Ainda vivemos em um mundo violento para pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis, Intersex e Assexuais (LGBTIA+). Nossos corpos ainda incomodam muita gente que não aceita a diversidade, é uma longa história de resistência.
A liberdade - que não é segura e nem plena - de andar assumidamente pelas ruas e vielas é recente. Estamos chegando ao fim deste ano maldito, e os casos de violência continuam aumentando. Mesmo com nossas marchas pela liberdade, que reúnem milhões de pessoas ao redor do mundo, ainda vivemos sobre o perigo.
Segundo a ONG Transgender Europe (TGEu) o Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais e travestis no mundo. Para piorar nossa situação - rindo de nervoso - temos um aspone (des)governando o Palácio do Planalto, em um estado miliciano e teocrático.
Queride leitor, esse é o meu primeiro texto na Fearless. Eu, que sou uma jornalista bissexual, pensei em citar vários dados de violência, censuras, desrespeitos e violações dos direitos humanos. Entretanto, decidi ressaltar o que temos de melhor: a resistência.
Por todas as vezes que não nos calamos, que fizemos corpo com a luta pela liberdade dos povos, que colocamos a cara a tapa. Por todas as pessoas que perdemos. Por todos os corpos que lutaram, e os que ainda lutam. Pela memória de nossos ancestrais transviados do século 16, pelas bruxas queimadas, pelos indígenas assassinados, pelo povo preto.
A verdade, meus querides, é que essa que vos escreve está exausta de tanta tragédia. Porém, percebi que o calor que chega com o verão banha nossas almas de esperança, e em tempos de incerteza a única coisa que podemos fazer é sonhar e lutar por esse sonho. Eu acredito fielmente no poder da comunidade, e eu gostaria de propor uma reflexão sobre o arco-íris que nos representa.
Com a junção da diversidade nos transformamos na abundância de vida, que se representa na própria existência desse planeta-casa em que habitamos. Somos as árvores múltiplas que estão aqui muito antes de nós, os pássaros e panteras, o arco e a flecha que corta o espaço-tempo. Temos uma vida inteira para construir, juntes, em prol da liberdade.
Acredito que somos corpo motor da história, e que essa construção só existe no agora. O tempo de se rebelar é uma constante irremediável. Não sei se teremos o amanhã para nos tornarmos maiores e me assusta a antevisão da piora, com a censura e a repressão.
A reação do oprimido precisa ser entendida como necessária e digna. Só assim iremos conquistar mudanças e movimentos que impactam a realidade a nossa volta. Precisamos articular pessoas e movimentos para reagir à altura da repressão que estamos vivendo nestes tempos sombrios e tenebrosos do fascismo pós moderno.
Eu acredito na mudança. Nossa voz ecoa e o mundo muda. Até a próxima.
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