Querides leitores da Índex,
sou uma jovem jornalista que acredita e luta cotidianamente pela liberdade, hoje é primeiro de abril, dia da mentira. Mas, há exatos 57 anos um golpe empresarial-civil-militar tomava o Brasil.
Há 57 anos começavam os 21 anos mais tenebrosos da história desse país. Milhares de pessoas foram mortas, assassinadas pelo estado miliciano que tomou o palácio do planalto em 1964. E eu peço licença para relatar algumas histórias, brevemente:
Amélia Telesmembro: “Amélia relata que não foi capaz de conter o vômito ao ver que o torturador que ejaculava sobre seu corpo nu e ferido, depois de masturbar-se olhando para a vítima amarrada na cadeira do dragão.”
Ana Mércia Silva Roberts: “Em pé, sobre uma cadeira, nua, encarapitada e enrolada em fios, Ana Mércia, então com 24 anos, se esforçava para manter os braços abertos sustentando uma folha de papel presa entre os dedos de cada mão. Ela estava naquela posição havia horas. A cada vez que o cansaço lhe fazia baixar minimamente os braços, um choque elétrico percorria todo seu corpo e as gargalhadas preenchiam a pequena sala.”
Criméia de Almeida: “Presa aos seis meses de gravidez, Criméia de Almeida conseguiu manter seu filho na barriga, apesar das torturas. Quando a bolsa estourou, na cela solitária que ela ocupava em uma carceragem do exército em Brasília, dezenas de baratas que habitavam o lugar começaram a subir por suas pernas, alvoroçadas por se alimentar com o líquido amniótico. Embora pedisse ajuda teve de esperar horas até ser transferida para um hospital.”
Me dói profundamente saber que milhares de mulheres foram presas e torturadas da pior forma possível. Assim como muitas pessoas LGBTIA+ foram presas e torturadas pelo simples fato de não se enquadrarem em padrões heteronormativos.
Sei que esse assunto muitas vezes foi esquecido por nós, juventude, mas vivemos um tenebroso momento: nosso presidente e vice-presidente da república consideram o gole de 64, um “marco histórico da democracia brasileira”; além de acreditarem que torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra era um homem de “honra”.
Tais afirmações são distorções da realidade, são formas de controlar a narrativa sobre a história, é uma ferramenta de controle social através do apagamento da memória. Não atoa Bolsonaro fez questão de acabar com a Comissão Nacional da Verdade (CNV) órgão criado pela ex-presidenta e ex-guerrilheira Dilma Vana Rousseff, que foi presa e brutalmente torturada pelos milicos.
Tal órgão, assim como a Lei de Acesso à Informação (LAI), permitiram que a população brasileira tivesse acesso aos documentos da Ditadura Civil-Militar após 50 anos de censura. Foi somente em 2013 que começamos a ter noção do quão tenebroso realmente foi a ditadura no Brasil.
E hoje, justo hoje, temos governantes que louvam a data que permitiu atrocidades fossem cometidas sem nenhuma vergonha. Lhes digo, querides leitores, não é por acaso.
Nossos governantes preparam um golpe de estado, e não se enganem, as forças armadas são parte fundamental dessa história, assim como eram em 64. Foram os militares que implementaram a Ditadura, foram os militares que permitiram que tivéssemos mais de 300 mil mortos pela pandemia do coronavírus, são os militares que continuam torturando e assassinando opositores políticos. E são os militares que odeiam os jornalistas que lutam pela liberdade de imprensa, que odeiam todas as pessoas que se sentem livres para serem quem são.
Porém, nós não esquecemos nossos mortos.
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