É aquela velha máxima de estarmos “sobre os ombros de gigantes”: se hoje em dia podemos celebrar nossas identidades na arte, e na esfera pública como um todo, é por causa do trabalho incansável de pessoas que se afirmaram e se expressaram antes de nós. Conheça alguns deles na nossa lista.
10.Gregg Araki
Se Derek Jarman é, de muitas formas, o mártir do Novo Cinema Queer, e outros cineastas como Gus Van Sant e Todd Haynes foram inexoravelmente absorvidos pelo mainstream, Gregg Araki é o “enfant terrible” do movimento que nunca se deixou abater. O artista radical que começou fazendo filmes por US$ 5 mil e sem autorização de filmagens (veja “Viver até o Fim”, “Geração Maldita”) se tornou um autor apreciado por sua sensibilidade kitsch satírica e seu retrato honesto da sexualidade jovem (“Mistérios da Carne”, “Kaboom”, a série “Now Apocalypse”) - mas foi Hollywood que se moldou a ele, e não o contrário.
09.Derek Jarman
Talvez o nome mais radical do que ficou conhecido como Novo Cinema Queer nos anos 1980 e 1990, Derek Jarman foi um pioneiro em muitos sentidos. Através de filmes experimentais (“The Angelic Conversation”, “War Requiem”) e narrativos (“Caravaggio”, “Eduardo II”), escancarou questões de sexualidade, identidade e ativismo -- e, mais tarde, falou abertamente de seu status de HIV positivo (em 1986, quando a doença ainda era tabu). Seu último filme, “Blue” (1993), é também o manifesto inestimável de um artista que encapsula uma geração.
08.Cheryl Dunye
Você não conhece cinema independente norte-americano se não conhece os filmes de Cheryl Dunye, uma das artistas mais vitais do meio durante a década de 1990. Desde os curtas que hoje chama de “Dunyementaries”, onde desenvolveu o seu estilo que misturava realidade e ficção, até o seminal “The Watermelon Woman”, de 1996, passando por seus trabalhos atuais na TV, em séries como “Lovecraft Country” e “The Chi” -- ela sempre criou arte audiovisual que eleva e analisa experiências unicamente lésbicas, unicamente negras, e unicamente sintonizadas com as intersecções entre as duas identidades.
07.Rufus Wainwright
As duas primeiras músicas do primeiro álbum de Rufus Wainwright, lançado em 1988, são “Foolish Love” e “Danny Boy”, que descrevem o começo e o final de um relacionamento gay em que uma das partes está em negação sobre sua sexualidade. Com sua voz e estilo operático, seu visual precursor de dezenas de vocalistas emo das décadas seguintes, seu senso de moda e clipes extravagantes, Rufus foi um respiro de ar fresco para a cena musical da sua época, e continua sendo até hoje. Basta ouvir seu (excelente) último disco, “Unfollow the Rules”, lançado em julho.
06.Alvin Ailey
Nome de referência quando se trata de dança contemporânea como um todo nos EUA e no mundo, Ailey também carregava especificidades muito importantes para a sua construção como indivíduo e como artista: era negro, e realçava a necessidade de representar experiências negras em suas coreografias e promover outros artistas negros através da sua companhia de dança, a Alvin Ailey American Dance Theater (AAADT); e era gay -- embora tenha permanecido no armário durante toda a vida, Ailey criava arte passional e com mensagens de aceitação que o tornaram um ícone LGBTIA+ antes e depois de sua morte, em 1989, por complicações da HIV/AIDS.
05.Gladys Bentley
Um absoluto fenômeno de público na época que ficou conhecida como a Renascença do Harlem, que deu notoriedade a muitos artistas negros durante os anos 1920 e 1930, Gladys Bentley se apresentava com roupas masculinas, tinha uma voz poderosamente grave, flertava com mulheres na plateia dos clubes onde tocava e modificava a letra de canções populares para versos sugestivamente sexuais. Apesar de ter caído no ostracismo em décadas posteriores, esse ícone lésbico do blues se tornou uma figura cult que jamais pode ser esquecida.
04.James Ivory
James Ivory foi o rei de Hollywood por um breve momento entre o final dos anos 1980 e o começo dos anos 1990, fazendo parceria com o marido Ismail Merchant para produzir adaptações refinadas e sensíveis de clássicos da literatura, que venciam estatuetas do Oscar a rodo e atraíam os melhores atores em atividade. “Maurice” (1987) é a obra mais abertamente queer da filmografia, mas todos seus longas dessa época (“Howards End”, “Um Triângulo Diferente”) carregam algo do olhar LGBTIA+ para o amor, a rejeição, a devoção. Em 2017, Ivory finalmente venceu o Oscar por escrever “Me Chame Pelo Seu Nome”, um clássico queer instantâneo, que foi dirigido por Luca Guadagnino.
03.Larry Kramer
A voz crítica, cáustica, imperdoável de Larry Kramer foi indispensável para a época do movimento LGBTQ+ que ele viveu, no antes, durante e depois da pandemia do HIV/AIDS. Em 1978, o seu livro de estreia, “Faggots”, incendiou a comunidade LGBTIA+ nos EUA com um retrato satírico das divisões internas entre indivíduos gays e do que Larry via como um modo de vida raso e sem propósito coletivo. Furioso com a apatia durante a crise da AIDS, tanto do governo quanto da comunidade, ele ajudou a fundar a GMHC e a ACT UP, duas das maiores organizações ativistas do mundo engajadas na causa de conscientizar o público sobre a doença, e escreveu o clássico “The Normal Heart” para eternizar a história de amigos e companheiros que sucumbiram a ela.
02.James Baldwin
Talvez o autor gay mais importante do século 20, e ainda hoje a autoridade maior em temas de intersecção de raça e sexualidade na cultura ocidental, James Baldwin começou a escrever sobre identidades queer nos anos 1950, antes de Stonewall e do movimento estourarem nos EUA e no mundo. “O Quarto de Giovanni” é seminal, mas é impossível indicar apenas um livro dele. A coleção de ensaios “Notas de um Filho Nativo”, a novela “Se a Rua Beale Falasse”, o autobiográfico “Se o Disseres na Montanha” -- nenhum é dispensável se sua missão é entender de verdade o século passado.
01.Jackie Shane
“Diga ela que sou feliz/ Diga a ela que sou alegre (em inglês, “gay”)/ Diga a ela que não faria/ Nada diferente”, diz o refrão de “Any Other Way”, música mais conhecida de Jackie Shane, que se tornou uma espécie de figura cult em Toronto, no Canadá, onde passou boa parte de sua carreira se apresentando em clubes e gravando com a banda Motley Crew. Reconhecida como pioneira para artistas trans no mercado musical apenas depois de 2017, quando foi encontrada e entrevistada pelo jornal The Globe and Mail, este ícone do soul deixou sua marca, embora tenha demorado demais para que pudéssemos conhecê-la.
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